quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A arte da paz

Faltavam poucos dias para o Natal. Eu, menino de uns dez anos, estava no alto da escadaria, com um horizonte de montanhas e sonhos a minha frente. “Estou esperando para ver logo os presentes que Papai Noel deixará debaixo da minha cama”, eu disse, com olhos brilhando de esperança. O amigo, ao meu lado, fitou-me entre sério e incrédulo: “Mas, Camilo, você ainda acredita nessas coisas?!”. A doce ilusão se desfez num instante. Aquela imagem de carinho que eu nutria no símbolo projetado de minhas esperanças esvaiu-se num repente. E na minha jovem idade, ainda que eu soubesse a não existência daquele ser mítico, era ele uma âncora segura na firmeza de meu afeto, no reconhecimento do amor que me chegava na forma de variados presentes.

Os choques de realidade e ceticismo, no entanto, não apagaram o brilho de meus olhos. Se desfeito um sonho, a mente passou a buscar o sentido mais profundo acerca do Natal. O nascimento de Jesus veio a integrar, com mais vigor, meu caminho de reflexões. Amar ao próximo como a si mesmo. Fazer da paz um sentido de vida. Criar as situações em que a paz seja praticada. Não apenas em um dia no ano, mas em cada dia que se vive. Nesses tempos de hoje, em que consumir é mais importante do que conhecer, até mesmo a figura de Noel se perde no silêncio dos dias da infância. E a imagem de Jesus se confunde com dogmatismos cegos em que o medo tem mais peso que o perdão e o amor.

Esses pensamentos e memórias vêm me habitar neste dezembro, quando muitos desejam aos outros felicidades no Natal e no Ano Novo durante alguns dias e depois simplesmente voltam a se endurecer e a viver na escravidão de seus desejos. Na urgência de se construir um mundo de harmonia, que comece com nossas próprias atitudes conosco mesmo e com nossos semelhantes, acho importante reforçar que carecemos hoje de uma Arte da Paz. Que estejamos alertas para que realmente nos comportemos como cidadãos construtores de um mundo melhor, não somente na noite de Natal. Em nosso trabalho, estamos agindo motivados por inveja, ciúme e ambição, ou o reflexo de nossas ações tem como meta a melhoria do mundo à nossa volta? Afinal, trabalho é ato de louvor e gratidão, e não um mecanismo de escravização ou de suporte às guerras e intrigas. Na família, estamos tendo respeito e carinho por nossos pais, avós, irmãos, filhos? No íntimo de nós mesmos, estamos sendo coerentes com nossos corações?

Neste dezembro que já anuncia um novo ciclo daqui a alguns dias, desejo que tenhamos pensamentos melhores, que ajudemos a construir a realidade mais com atos do que com palavras, mais com palavras verazes do que com rompantes de falsa sabedoria, mais com sabedoria do que movidos pelos desejos e escravas emoções, e tudo isso com a emoção sadia do amor e da paz em nós.

*Camilo Mota é escritor, fotógrafo e jornalista, editor do Jornal Poiésis.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Jornal Poiésis de novembro

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Projeto leva esporte e educação para a Chatuba



Manhã de domingo. Em torno do campinho de futebol no bairro Chatuba, em Saquarema, crianças, jovens, adultos, famílias inteiras vibram. Está acontecendo o 1º Torneio dos Amiguinhos do Ciri, um projeto de cunho social, que envolve esporte, educação e cidadania, com ações voluntárias de moradores locais. Mas que “Ciri” é esse que rompe aparentes regras gramaticais para se tornar um exemplo de trabalho em que a esperança conduz ao crescimento coletivo de uma comunidade?

Completando um ano de funcionamento em outubro, a iniciativa partiu da ideia de que era preciso tirar as crianças da ociosidade, oferecendo-lhes uma opção esportiva a partir do uso do campinho do bairro. Foi quando Ciríaco Nazareth, conhecido na comunidade como Ciri, convidou as primeiras crianças para formarem um time de futebol. Além das regras próprias do esporte, os participantes foram aos poucos compreendendo que a prática era um ato coletivo, em que todos tinham sua função e deveriam respeitar-se mutuamente. Uma lição de cidadania cotidiana, que também recebia reforço de palestras e outras atividades que no começo eram realizadas na garagem da casa de Ciri e sua filha, Magna Andrade, que coordena o projeto. “Quem participa tem que ser amigo do próximo, tem que ser solidário, tem que estar unido”, informa Magna, que é professora em duas escolas no município e está trazendo sua experiência para uma forma de voluntariado que dá mostras da importância de se trabalhar em favor do bem social, sem fins políticos numa cidade que carece de atividades esportivas e culturais organizadas em sua periferia. Atualmente, já foram formados três times, que participam de várias competições amadoras no município, inclusive conquistando títulos.

O “Amiguinhos do Ciri”, que já atende cerca de 40 crianças, está ganhando agora mais um grande reforço com a inauguração da Associação Maria da Gloria Costa Israel, numa casa cedida por um morador local, na rua Piauí, 19. Ali serão oferecidas atividades extras, como aulas de dança do ventre, capoeira, biblioteca, salas de aula para reforço escolar e alfabetização de adultos, entre outras muitas possibilidades que poderão vir a ser acrescidas a partir do trabalho de voluntários que venham somar com o grupo. Uma sala para atendimento médico também foi montada principalmente para atender aos casos de crianças com problemas de desnutrição, e que precisam de acompanhamento e orientação adequada.

[Texto publicado no Jornal Poiésis, edição nº 175, outubro de 2010. CLIQUE AQUI para acessar a versão digital da publicação.]

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sabor antigo


Antiguidade
Upload feito originalmente por Camilo Mota - Fotos
Domingo de manhã é uma doçura passear pela feira de antiguidades ao largo da Câmara Municipal de Petrópolis. Uma viagem no tempo. Um gosto de vida que se redescobre em cada talher, num livro, uma moeda...

Tenho passeado por aí, fazendo fotos com uma antiga Nikon FM10 e filme p&b. Um exercício de paciência e aprendizado.

Mais imagens no meu flickr (http://www.flickr.com/photos/camilomota)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Em busca do voto ético e esclarecido

Votar com ética e com consciência, buscando os candidatos que estejam comprometidos com a dignidade da pessoa humana e a vida, a família e a liberdade de educação. Estes são alguns dos princípios que constam das notas de orientação que estão sendo divulgadas pelos bispos da Regional Leste 1 da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) e que foram tema da palestra ministrada na terça-feira, 14/09, em Saquarema, pelo bispo auxiliar Dom Roberto Francisco. O encontro ecumênico reuniu quase uma centena de pessoas na Cineia House Fest, incluindo religiosos de várias denominações, representantes da sociedade civil e candidatos nas eleições deste ano. “Esta reunião é voltada para orientar todos os cristãos, mas principalmente para sensibilizar os candidatos nas questões que envolvem a própria dignidade humana”, disse José Alves Filho, o Padre Zito, da Paróquia de Nossa Senhora de Nazareth.

“Nosso voto tem que ser ético, ser esclarecido”, disse Dom Roberto Francisco, que abordou a importância da construção de uma democracia baseada na cultura participativa. Segundo ele, o empenho da Igreja Católica é a cada dia aprofundar-se na campanha da ficha limpa, da divulgação dos direitos dos eleitores e trabalhar pela reforma política. “Precisamos desenvolver uma cultura política autenticamente democrática”, ressaltou. O bispo auxiliar também criticou profundamente o voto útil, o patrimonialismo do Estado, o paternalismo político e os “profissionais e picaretas” da política, e lembrou que o Estado é que deve servir ao cidadão, e não o contrário. Ele também esclareceu cada um dos critérios que estão sendo divulgados pela CNBB para orientar os eleitores na hora do voto: votar em candidatos que defendam a dignidade da pessoa humana e da vida, desde a sua concepção até a morte; a defesa da família e a oposição a tudo que a degrade, como a legalização da prostituição e das drogas, e a adoção de crianças por casais homoafetivos; liberdade de educação por parte dos pais; solidariedade, principalmente para com os pobres; defesa da autonomia da ação participativa dos grupos, associações e famílias, sem interferências do Estado; comprometimento na construção de uma Cultura da Paz em todos os níveis, principalmente na educação e na defesa da infância e da adolescência.

Ao final, Dom Roberto Francisco também apoiou publicamente a marcha da família, evento que acontecerá em Saquarema no dia 25 de setembro, às 18 horas, reunindo milhares de cristãos, numa grande manifestação ecumênica em favor da vida e dos valores éticos e morais da sociedade. “Este não é um movimento da Igreja Católica, mas dos cristãos, pois queremos uma sociedade mais justa, fraterna e solidária”, disse.


[Fotos do encontro no FLICKR DO NOVA SAQUAREMA]

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Novas perspectivas


Editorial do Jornal Poiésis, nº 174, setembro de 2010.
(clique na imagem da capa do jornal para ler a versão digital)

Numa cena do filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, de Peter Weir, o professor interpretado por Robin Willians sugere que seus alunos vejam o mundo sob nova perspectiva. Para isto, mostra-lhes como a visão muda ao subir-se em uma mesa. O exemplo simples — que na prática é rico e amplo em significados — está no limiar deste novo setembro. No mês em que esperamos pelo recomeço de um ciclo com a chegada da primavera, o Jornal Poiésis dá um novo passo e muda sua apresentação gráfica, passando a ser publicado no formato standard. Estamos, também, reformulando alguns conteúdos, procurando dar maior dinamismo a nossas abordagens, aprofundando alguns assuntos e ampliando o enfoque temático, sem perder de vista que é nosso propósito estarmos hoje e sempre enraizados no princípio de que a Cultura e a Educação são as molas mestras do bem viver.

O lema “Literatura, Pensamento & Arte” é o principal alimento da alma de nossas publicações e trabalhos (nas áreas do jornalismo, da web e da fotografia). Segundo nosso ponto de vista, é preciso subirmos mais vezes sobre as mesas, olhar de formas diferenciadas para cada situação na vida, valorizar as pequenas coisas, as atitudes simples que possam representar um novo paradigma a ser apresentado para um mundo que vive uma enorme crise de valores. Nesse sentido, a presente edição traz reportagens sobre dois projetos que anunciam intenções mais conscientes em relação ao ambiente em que vivemos: os projetos Jardins de Itaúna e de Educação Ambiental, este último com o fator positivo de levar crianças de escolas públicas municipais a conhecerem a rotina de uma horta produzida totalmente de forma orgânica. Também mostra a preocupação cada vez maior em tornar realidade a prática de proteção às mulheres que sofrem violência, com a inauguração da Coordenadoria da Mulher, em Araruama. E reflete sobre o problema do “bullying” nas escolas, a partir de um estudo do psicanalista João Carvalho Neto. Nossa manchete chama a atenção para a devoção religiosa de uma grande parte da população saquaremense, que este ano conta também com uma grande reformulação, na procura de um resgate cultural, através de shows com grupos locais e de atividades religiosas que prometem envolver misticamente a comunidade com as procissões de cavaleiros, motoristas e pescadores.

Estes são apenas alguns sinais mais evidentes de nossa intenção editorial, que procura, a cada novo mês, ampliar sua atuação com a resposabilidade de ser um veículo de comunicação que investe, sobretudo, no incentivo à conscientização sobre a real necessidade de sermos humanos no sentido mais fundamental: irmãos de uma mesma espécie, reflexos de um mesmo Pai.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Manhã de inverno


Manhã de inverno
Upload feito originalmente por Camilo Mota - Fotos
Definir o azul em manhã de inverno, com o sol anunciando os contrastes. Essa pequena visão da natureza aconteceu na manhã desta quinta-feira no horto municipal de Saquarema.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ganhei flores em meu aniversário



As azaleias gêmeas abriram em meu quintal na manhã deste 24 de agosto, saudando mais um aniversário. Como é bom agradecer a Deus por sua bondade em se fazer refletir no mundo toda Sua beleza!

sábado, 14 de agosto de 2010

Convocação para discutir o Conselho Municipal de Cultura de Saquarema

O que queremos para o desenvolvimento da Cultura no município de Saquarema? De que forma os artistas podem ter uma participação efetiva no contexto de criação de políticas públicas que sejam plenamente efetivadas no município? Estas são algumas das questões a serem discutidas na primeira reunião para debater a formação do Conselho Municipal de Cultura, convocado pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC).

O encontro acontece no dia 31 de agosto, terça-feira, às 19 horas, no Teatro Municipal Mario Lago. “A participação de todos os agentes culturais é de extrema importância para criarmos um conselho que seja sólido e paritário”, disse Cleber Santos, superintendente adjunto de Cultura da SMEC.

O movimento para a criação do conselho ganhou força com a mobilização ocorrida no início do mês, quando dezenas de artistas e agentes culturais protestaram contra a tentativa de fechamento da Casa de Cultura Walmir Ayala e da Biblioteca Municipal José Bandeira, sem que as mesmas tivessem um destino definido e respeitado.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Caminho das flores


Tenho para mim que a vida é uma descoberta cotidiana. Há sempre algo novo, mesmo que se pense ter visto tudo. A natureza se transforma, recria a vida, recompõe os traços. A luz incide sobre tudo e todos.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

E a casa não caiu...

O movimento em torno da conservação da Casa de Cultura Walmir Ayala, em Saquarema, como polo essencialmente cultural traz à tona um conjunto de elementos enriquecedor para reflexões e ações presentes e futuras. Afinal, o que está em jogo não é simplesmente se aquele local deve ou não deve ser transformado no plenário da Câmara de Vereadores, como pleiteiam os legisladores do município. Trata-se, sobretudo, de respeito pela cultura e pela história, de respeito pelas pessoas que pensam e constroem o conhecimento através das artes, em todas as suas manifestações. O suposto acordo entre representantes dos poderes Executivo e Legislativo para ceder a Casa de Cultura para finalidades políticas pecou por ter sido feito sem consulta pública, sem maiores discussões e argumentações. Afinal, os vereadores são eleitos para representarem a população e, para isso, precisam ouvi-la.

A manifestação pública marcada para a tarde-noite de 3 de agosto repercutiu bem além do que se previa. E ela, na verdade, nem chegou a acontecer de fato, mostrando que a ação cultural tem uma força que mobiliza de uma maneira muito mais sutil, provocando abalos nas superestruturas. A mobilização dos agentes culturais aconteceu, principalmente, através de uma convocação através da internet e vários telefonemas, chamando a atenção de órgãos da grande imprensa, e culminando numa reunião de mais de 30 pessoas na Colônia de Pescadores Z-24, local da concentração para a passeata que estava prevista e que não aconteceu por dois simples motivos: a forte chuva que caiu por volta das 18 horas e, principalmente, porque a sessão da Câmara de Vereadores marcada para aquela noite foi cancelada, sob a alegação de que não havia, até então, uma definição do que seria feito em relação à reivindicação da classe artística. A decisão sobre o destino da Casa de Cultura Walmir Ayala foi adiada. Os vereadores optaram pelo silêncio e pelas portas fechadas, passando a responsabilidade para o Executivo tomar um posicionamento.

Enquanto alguns se omitem, a classe artística do município começa a dar sinais de que tem capacidade de se mobilizar (e no encontro havia, inclusive, representantes de municípios vizinhos que se sensibilizaram pela causa e marcaram presença). Na reunião, debateu-se, principalmente, a necessidade de se formar o Conselho Municipal de Cultura, através do fortalecimento do movimento cultural, de seu amadurecimento e de sua ação efetiva para evitar casos como este, em que dois símbolos da cultura local — a Casa de Cultura e a Biblioteca Municipal — sejam tratados como meros “livros que podem ser empacotados à espera de uma estante nova”. A convocação para a estruturação do conselho está prevista para acontecer até o final de agosto.

Enquanto esta crônica-reportagem está sendo escrita, nos bastidores há movimentações que indicam que a Casa de Cultura Walmir Ayala deverá continuar seu destino de foco de luz para o desenvolvimento cultural do município. Mantendo-se ali sua finalidade básica, é preciso, agora, olhar com mais atenção para aquele espaço, conferir-lhe o cuidado que merece para, mais adiante, não ocorrerem, novamente, atitudes unilaterais que venham desrespeitar o cidadão que ainda acredita que o conhecimento adquire-se através da educação e da cultura.

Camilo Mota é escritor, editor do Jornal Poiésis, membro titular da Academia Brasileira de Poesia.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Uma biblioteca que faz acreditar nos sonhos


Enquanto a visão econômica leva muitos a discutirem a aposentadoria dos livros impressos por conta do avanço dos leitores digitais (e-readers), uma iniciativa de um homem simples mostra que temos que ter um enfoque mais humano sobre as coisas, procurando, primeiro, fazer o bem a quem está próximo de nós e dar oportunidade de melhoria de vida e de educação para quem carece de quase tudo. É o que está acontecendo no bairro Manoel Correia, um dos mais pobres e com altos índices de violência no município de Cabo Frio. Ali, o comerciante José Carlos da Silva abriu, ao lado de sua pequena mercearia, uma biblioteca comunitária. Batizado de Projeto Feijão, o espaço de 30 metros quadrados está em atividade desde 2007 e a partir de 2010 iniciou uma proveitosa parceria com a Universidade Estácio de Sá – Campus Cabo Frio, através do suporte fornecido pela bibliotecária Roberta Freitas, pelo professor Marcos Silva e alunas voluntárias do curso de Pedagogia.

A ideia da biblioteca surgiu de uma maneira natural. A filha de José Carlos precisava fazer uma pesquisa para a escola. Não encontrando o que procurava na biblioteca municipal e nem em estabelecimentos de ensino superior da cidade, ele partiu para a criação de uma biblioteca própria, para atender às crianças do bairro. Assim, de início, ele reduziu o espaço de seu comércio para colocar as primeiras prateleiras e receber os livros. Foi chamado de maluco por alguns moradores. Como alguém pode abrir mão das vendas para encher paredes com livros? E ele não parou por aí. Em pouco tempo, os amigos começaram a trazer doações e a biblioteca cresceu, vindo a ocupar todo o cômodo, obrigando-o a transferir seu comércio para a sala ao lado. “Você tem que sonhar, e o sonho você tem que ir em busca dele e não pode desistir”, filosofa José Carlos.

A imagem do feijão, que dá nome ao projeto, é significativa. Segundo José Carlos, a escolha está ligada ao processo de crescimento do vegetal. Ao plantar um grão, a germinação vai levar ao surgimento de uma vagem, representando assim a ideia de crescimento, desenvolvimento e expansão. “O intuito é que o projeto cresça e não permaneça só aqui; que possam sair daqui vários feijõezinhos”, diz ele. “Eu me alegro quando vejo uma pessoa pegar um livro. Hoje um livro pra mim é como se fosse um diamante”, complementa. E finaliza, com sabedoria e esperança: “É necessário você educar as crianças. O livro tem essa importância e valia. As crianças precisam colocar na sua mente que o estudar é uma ponte para o futuro. Quem quer alcançar alguma coisa precisa passar por essa ponte que é a educação”.

A parceria do Projeto Feijão com a Universidade Estácio de Sá está auxiliando na organização do acervo e também em seu crescimento. “Nós implantamos um sistema de empréstimo, através de fichário e com a ajuda das alunas do curso de Pedagogia estamos fazendo uma catalogação prévia dos livros”, informou Roberta Freitas. Contando com cerca de dois mil livros, a biblioteca comunitária está aberta a novas doações. Os interessados em ajudar, podem entrar em contato com Roberta no Campus da Estácio em Cabo Frio (Rodovia General Alfredo Bruno Gomes Martins, s/nº - lote 19, Bairro Braga – Tel. (22) 2646-2100 ramal 2115). Para conhecer mais sobre o projeto acesse o blog Projeto Feijão Biblioteca Comunitária.


Camilo Mota é escritor, jornalista, editor do Jornal Poiésis.

sábado, 17 de julho de 2010

A poesia é outro dia


A poesia é outro dia. Hoje ou amanhã. Os caminhos é que a desvelam. Porteira aberta esse mundo de tempos. Escrevo com a luz também para guardar o que vi ontem.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Espelho junino

O gesto simples, compartilhado. No espelho da vida, refletimos nosso tempo, as experiências, as amizades de infância. Há sempre uma história para se contar.

Sob a bênção de São Pedro

A forte tradição religiosa do município de Saquarema é tema presente no dia a dia de seus habitantes. Está encravada nos gestos, nas falas, na ida às igrejas aos domingos, no sinal da cruz feito quase automaticamente ao se passar em frente à Igreja de Santo Antonio em Bacaxá, nos cantos entoados durante as procissões. Mais ainda no olhar de esperança durante uma celebração ou numa fala solta em meio a um silêncio que não se esperava existisse em meio à multidão. Um silêncio de fé profunda, saindo da garganta de um fiel, dizendo pausadamente: “Sempre peço muita proteção a São Pedro, porque onde eu trabalho não tem chão, só água”. A frase do pescador foi dita à beira da Lagoa de Saquarema, enquanto ajudava a terminar os últimos preparativos para a procissão dos barcos na noite de 29 de junho.

Eu e Regina acompanhamos a festa. O preparativo dos barcos. A procissão marítima indo em direção à praça dos Pescadores. O encontro com a procissão que descia da Igreja Matriz. Esse enlace devocional foi registrado por nossas câmeras. Ficou marcado em nossas memórias digitais e sentimentais. Por um instante, lembro-me de meu pai que, toda noite, antes de dormir, balbucia rezas que a gente nem ouve direito, mas que certamente sobe aos céus para contar de sua fé. Sobem aos céus também os olhares que vimos em Saquarema no Dia de São Pedro. A fala do pescador veio me dizer que nós todos pisamos um chão móvel, incerto, em constante mudança e transformação. Nossa única firmeza é a que vem do alto, quando deixamos entrar em nossos corações o Amor ensinado pelo Mestre.

Camilo Mota é escritor, jornalista, fotógrafo, membro da Academia Brasileira de Poesia e editor do Jornal Poiésis. As fotos deste evento estão no Flickr do Nova Saquarema (www.flickr.com/photos/novasaquarema).

domingo, 30 de maio de 2010

Conferência debate rumos culturais das baixadas litorâneas

A cultura sendo conduzida por uma gestão amplamente democrática, com inclusão de todos os setores, de todas as cidades do interior do Estado do Rio. Assim está se configurando um novo paradigma a partir dos debates gerados nas conferências de cultura (municipais e regionais) que estão sendo organizadas nos últimos três anos pela Secretaria Estadual de Cultura (SEC). Não poderia ter sido diferente na Conferência das Baixadas Litorâneas, realizada no dia 29 de maio, em Saquarema, reunindo cerca de 380 representantes de 12 municípios. Além da cidade sede, estiveram presentes Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Maricá, Rio Bonito, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia e Silva Jardim. [GALERIA DE FOTOS]

O encontro em Saquarema contou com a presença da secretária de Cultura do Estado, Adriana Rattes, que teve oportunidade de fazer uma exposição abrangente das principais ações de sua Secretaria, ressaltando o objetivo de tornar o órgão realmente relevante para o Estado, como instrumento de política pública, partindo do princípio de que cultura é um direito de todas as pessoas e um dever do estado. “Das políticas públicas, a cultura — assim como a educação — tem uma característica um pouco diferente das outras: a cultura trabalha com a potência humana e não com a fraqueza”, propôs a secretária, como forma de se refletir um novo olhar sobre o futuro na condução do fazer cultural nos municípios e sua integração regional.

A Conferência proporcionou ainda a oportunidade de debater a formação de um consórcio de cultura da Região dos Lagos, com o objetivo de criar uma visão e uma ação estratégicas para o fortalecimento das bases da administração cultural entre as cidades, de forma integrativa e funcional. Já a historiadora Nilma Accioli apresentou uma pequena e rica palestra sobre a história da região das baixadas litorâneas. Ao final do evento, foi apresentado o diagnóstico preliminar sobre a cultura regional e eleitos os representantes de cada município que integrarão o grupo de trabalho para os debates e estudos mais aprofundados que serão realizados nos próximos meses, antecedendo a segunda conferência deste ano, prevista para ocorrer entre setembro e outubro.

Além das atividades regulares da conferência, houve apresentações de artistas e grupos locais, mostrando a diversidade da produção cultural saquaremense, como a banda Santo Antonio, o grupo teatral do Centro Cultural Casa do Nós, o Núcleo de Poesia Alberto de Oliveira, a Folia de Reis Estrela do Oriente e o Coral Escola Que Canta (foto). “Saquarema já está podendo sentir grandes mudanças a nível cultural; nós temos anseios e vontades de que a cultura seja reconhecida de verdade tal qual ela merece, e tenho certeza de que conferências como esta contribuem para o fortalecimento do princípio de se elaborarem políticas públicas que deem sustentação real a tantas manifestações em cada um dos municípios fluminenses”, ressaltou a secretária municipal de Educação e Cultura de Saquarema, Ana Paula Giri Fortunato.

Camilo Mota é editor do Jornal Poiésis, membro da Academia Brasileira de Poesia.

sábado, 22 de maio de 2010

Pelo simples prazer de escrever


Acho que a existência deste blog é pelo prazer simples de escrever. Às vezes é uma nota cotidiana, um lampejo em meio ao turbilhão de ideias e compromissos. Daí a poesia que surge no caminho. Não há intenção prévia. Objetivo apenas de compartilhar as palavras, um modo de ver o mundo, assim, em meio a bilhões de blogs mundo adentro. Alguns me encontram, como eu também encontro muitos, como fôssemos caminhantes numa rua qualquer de uma cidade única ao pé do sol, cada um com sua pele, sonho, mito, razão e olhos de ver e sentir. Coisa simples, como o orvalho que se descobre no amanhecer.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Alma franciscana



É bem verdade que visito muito mais meus amigos do que sou visitado por eles. Talvez seja uma certa opção minha pelo recolhimento. Alguma herança que carrego desde a infância. No entanto, no mundo, cresço existencial e espiritualmente justamente a partir das relações sociais, do trabalho cotidiano, da vida em coletividade. Mas sempre retorno ao lar: assim, o homem e seus óculos.

Este ano tenho sido visitado por outros companheiros de vida, outros terráqueos. Hoje mesmo fui surpreendido na varanda por um sabiá. Seria uma coisa comum, tamanha a quantidade de pássaros que vêm cantar à minha janela toda manhã. Porém, desta vez, até me deixei atrasar para a vida profissional, pois o visitante resolveu fazer amizade. Sem medo da raça humana (talvez tenha ele fugido ou tenha sido solto de alguma gaiola das redondezas), ele passou alguns minutos em minha companhia, bicando os pequenos pedaços de pão entre meus dedos. Senti-me uma criança que descobre uma novidade, como se eu nunca tivesse visto um pássaro antes.

Antes do sabiá, tinha sido surpreendido por um pato! Fotografei e escrevi todo contente para o Sylvio Adalberto (meu guru em termos de conhecimentos acerca do mundo dos passarinhos) que logo me enviou uma mensagem em que dizia: Ele só foi visitar sua casa para que você não se esqueça de fotografar essas aves maravilhosas que existem em sua cidade. Parece estar dizendo: "Olha, caro poeta Camilo, você deve usar seu talento e sensibildiade para registrar as aves de sua cidade e mostrar como são lindas em liberdade".

Pois, então, esta semana vieram também os micos, que estão deixando minha cadela em estado de alerta constante. Por isso compartilho com vocês, leitores amigos, as fotos de meus novos amigos de jardim, resultantes naturais de minha alma franciscana, que vem de me acompanhar de gerações antigas.

domingo, 16 de maio de 2010

Enquadramento


Senti a visão inusitada. Num mesmo ângulo, parece que o mundo se inverteu. Cactus no telhado. A casa e o arame farpado. Quadro formado. Click.

sábado, 15 de maio de 2010

Paulo Melo anuncia aliança com Dalton Borges


Durante uma semana, a população de Saquarema viveu uma expectativa que se transformou em boatos com as mais diversas variantes: o deputado estadual Paulo Melo teria fechado uma aliança política com um de seus maiores adversários, o ex-prefeito Dalton Borges. Finalmente, na noite de sexta-feira, 14/05, o próprio deputado convocou uma reunião pública numa casa de festas em Bacaxá e anunciou oficialmente que o acordo político estava selado, com vistas às eleições de 2010.

No encontro, que contou com participação da prefeita Franciane Motta, secretários do governo municipal, vereadores e milhares de pessoas (muitas tiveram que assistir às declarações do lado de fora do prédio, a partir de um telão), Paulo Melo fez um levantamento histórico de todo o processo político ocorrido desde a eleição de Carlos Campos para a prefeitura de Saquarema, quando iniciou sua aproximação com Antonio Peres e o afastamento de Dalton Borges. Passada mais de uma década, a história dá uma guinada. E quem antes era aliado vira dissidente, e quem era dissidente vira aliado.

Paulo Melo foi enfático ao afirmar que não houve nenhuma exigência por parte de Dalton Borges para a nova aliança, colocando fim aos boatos que circulavam na cidade dando conta de que haveria mudanças em várias secretarias do governo municipal. “Na rua tem gente falando um monte de coisas, muitas verdades, mas muitas mentiras também. Queremos deixar claro que não houve nenhuma exigência em relação à política municipal, pois nós pensamos num acordo voltado para a campanha eleitoral do deputado”, disse Franciane Motta. “Hoje, eu caminho um passo em nova direção, buscando um horizonte que quiseram me tirar, buscando caminhar no caminho da luz, sempre com a intenção e o propósito maior de fazer valer a pena o mandato e a confiança que vocês me depositaram; que eu tenha o perdão pelos meus erros, mas que também tenha boa acolhida pelos meus acertos”, afirmou Paulo Melo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sob o ritmo do cordel em Arraial do Cabo


“Mas o poeta quer sobreviver.
E recomeça, eterno,
A invenção da utopia.”
(Anderson Braga Horta)

A esperança de ver o mundo modificado, com maior valorização das relações humanas e o olhar direcionado para a cultura é o que parece mover algumas pessoas. Talvez elas sejam poucas, mas são essenciais na construção de uma nova história, com novos paradigmas, gerando uma força contagiante ao seu redor. É assim que percebo as ações que estão sendo desenvolvidas através de alguns projetos em andamento na Região dos Lagos, como o da Casa da Poesia, em Arraial do Cabo. Com amplo apoio do empresário Paulo Ribeiro e sua esposa Maria Luisa Barreto, o pequeno espaço sediou nos dias 7 e 8 de maio um evento sobre literatura de cordel que deve ficar marcado no coração e mente de muita gente.

Sob a coordenação de Fernanda Machado, o evento foi aberto na noite do dia 7 como uma confraternização de cultura popular. Com decoração temática, a Casa da Poesia serviu de cenário para performances do ator e cordelista pernambucano Edmilson Santini, do jovem ator Diego Sá, e dos músicos Junior Carriço e Pavão da Gaita, além de outros artistas que se somaram ao grupo, numa celebração à vida e à arte, sob o manto sereno de um flamboyant que complementa a paisagem do local. Também houve espaço para a reflexão acadêmica, com o escritor Wilnes Martins fazendo uma abordagem sobre a história da literatura de cordel, e o professor João Moreno abrindo um leque de múltiplas leituras sobre o poeta e pescador Cecílio Barros Pessoa, tema de sua dissertação de mestrado. A “celebração” teve continuidade no sábado pela manhã na feira livre do município, onde Santini expôs sua obra e apresentou o rico e variado repertório cordelista para o povo local. E na noite do dia 8, o evento foi encerrado com a exibição do filme “Patativa do Assaré”.

A simplicidade dos versos dos cordéis revela a riqueza da cultura popular. Através de um sistema habilmente estruturado de rima, métrica e oração — como tão bem frisou Edmilson Santini durante o evento —, os poemas ganham uma função social plenamente integrada ao seu meio. O cordelista pernambucano, vestido a caráter como um colorido trovador de outros tempos, inserido em nosso contexto pós-moderno, ressaltou a importância do verso popular na formação cultural dos jovens. “A literatura de cordel pode ser uma excelente ferramenta também na educação”, disse, fazendo referência ao projeto que desenvolve em escolas no Rio de Janeiro, onde são realizadas oficinas de criação de cordel.

O evento realizado pela Casa da Poesia mostra que ainda há espaço para sermos sublimes, para cultivarmos a beleza e respeitarmos as muitas raízes que sustentam a cultura popular nas pequenas cidades do país.

Fotos do evento: CLIQUE AQUI.

Camilo Mota é poeta e jornalista, editor do Jornal Poiésis (www.jornalpoiesis.com)

domingo, 9 de maio de 2010

A poesia refletida no sorriso


Às vezes não dos damos conta de quanto é simples a vida, e no entanto, tão rara. Uma preciosa joia, na verdade. E são tantos os intantes que aqui vivemos, que descobrimos momentos de rara beleza. Se olharmos bem, encontraremos muitas e muitas coisas belas, como o sorriso deste senhor, na feira de Arraial do Cabo numa manhã de sábado... Ele assistia a uma apresentação do cordelista Edmilson Santini. A poesia refletida no sorriso.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Para se praticar o Amor

A prática do Amor é um desafio para os dias atuais. Não por que no passado houvesse maiores facilidades para o Homem compreender, aceitar e agir de acordo com o Princípio de que a união e a harmonia se fortalecem pelas forças atrativas da prática do Bem, do Amor. Mas porque nestes tempos de comunicação de massa em que agora vivemos as armadilhas que impedem o fluxo da Luz parecem mais evidentes, trazendo-nos confrontos diários com exemplos de ódio, intolerância e preconceito. Estará a humanidade condenada a trilhar caminhos sem esperança? Acredito que não, ainda que muitos insistam em apregoar tal conduta.

Para praticar o Amor é preciso se desvestir do manto da ignorância. A atitude de estar aberto ao conhecimento, à investigação da Verdade, auxilia na busca pela capacidade de ver o mundo com mais clareza, compreendendo as relações entre as pessoas, os povos, e reconhecendo o planeta como uma pátria comum. Todos nós, pobres e ricos, homens e mulheres, adultos e crianças, religiosos e ateus, somos filhos do Universo, somos feitos dos mesmos elementos químicos, somos nutridos pela mesma natureza, pela mesma Força Vital. O cientista Marcelo Gleiser, em recente entrevista a um programa de tv, ressaltava o quanto a Vida é algo raro. No entanto, não nos apercebemos disso e nutrimos preconceitos, deixamo-nos nos influenciar por discursos de ódio e racismo, incitamos a desavença ao invés da união. Amar o próximo como a si mesmo não é uma utopia, mas uma necessidade. Mas muitos de nós precisamos, primeiro, aprender a amar a nós mesmos, a nos reconhecermos como seres em constante busca pela melhoria de nossas vidas, nutrindo melhores sentimentos e pensamentos para, assim, descobrirmos o quão importante nós somos no contexto da Criação. Cada pessoa é um milagre. Cada nova pessoa que encontramos no caminho é um milagre para nós quando sentimos o quão forte é o Amor em seu poder criativo.

A prática fiel do bem é um exercício a ser alimentado do nascer ao pôr do sol. O caminho para a Paz (em si e no mundo) começa em nosso olhar, nossas palavras e atitudes.

Camilo Mota é jornalista, terapeuta holístico e mestre de Reiki (www.reikiadistancia.com.br). O texto acima escrevi para ser publicado no Jornal Litoral de Saquarema, em maio de 2010.

Entre lentes e borrões

"O homem e seus óculos" era para ser o título de um poema. Talvez ainda venha a ser. Mas aproveitei o incentivo do amigo Turi Souza e batizei o blog assim. Para traçar linhas, publicar algumas crônicas, tecer alguma reflexão. Coisas que a gente faz acontecer quando está de óculos, ou sem eles. Algum dia escrevo mais sobre isso, talvez aqui mesmo, se esta senda prosseguir...