quarta-feira, 30 de junho de 2010

Espelho junino

O gesto simples, compartilhado. No espelho da vida, refletimos nosso tempo, as experiências, as amizades de infância. Há sempre uma história para se contar.

Sob a bênção de São Pedro

A forte tradição religiosa do município de Saquarema é tema presente no dia a dia de seus habitantes. Está encravada nos gestos, nas falas, na ida às igrejas aos domingos, no sinal da cruz feito quase automaticamente ao se passar em frente à Igreja de Santo Antonio em Bacaxá, nos cantos entoados durante as procissões. Mais ainda no olhar de esperança durante uma celebração ou numa fala solta em meio a um silêncio que não se esperava existisse em meio à multidão. Um silêncio de fé profunda, saindo da garganta de um fiel, dizendo pausadamente: “Sempre peço muita proteção a São Pedro, porque onde eu trabalho não tem chão, só água”. A frase do pescador foi dita à beira da Lagoa de Saquarema, enquanto ajudava a terminar os últimos preparativos para a procissão dos barcos na noite de 29 de junho.

Eu e Regina acompanhamos a festa. O preparativo dos barcos. A procissão marítima indo em direção à praça dos Pescadores. O encontro com a procissão que descia da Igreja Matriz. Esse enlace devocional foi registrado por nossas câmeras. Ficou marcado em nossas memórias digitais e sentimentais. Por um instante, lembro-me de meu pai que, toda noite, antes de dormir, balbucia rezas que a gente nem ouve direito, mas que certamente sobe aos céus para contar de sua fé. Sobem aos céus também os olhares que vimos em Saquarema no Dia de São Pedro. A fala do pescador veio me dizer que nós todos pisamos um chão móvel, incerto, em constante mudança e transformação. Nossa única firmeza é a que vem do alto, quando deixamos entrar em nossos corações o Amor ensinado pelo Mestre.

Camilo Mota é escritor, jornalista, fotógrafo, membro da Academia Brasileira de Poesia e editor do Jornal Poiésis. As fotos deste evento estão no Flickr do Nova Saquarema (www.flickr.com/photos/novasaquarema).