quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

No meio do caminho, havia um livro

Quando Renato e Maria Clara me presentearam com o livro “Bocas do Tempo”, de Eduardo Galeano, tive um lampejo de que iniciaria o ano falando sobre isso. Não sobre a obra (que bem merece um olhar e um dizer atentos), mas do ato de compartilhar leituras, de fazer os livros circularem e ganharem novas dimensões nas vidas das pessoas. Num instante, passam diante de meus olhos uma série de textos e citações que venho colecionando ao longo dos dias e percebo que muito disso é espelhado na minha vida e conduta, tanto pessoal quanto literária. O próprio Jornal Poiésis existe em função de sua capacidade de compartilhar textos e ideias, tendo a poesia como leitmotiv. Daí seu diferencial em relação a outras publicações locais e nacionais.

Ler é um ato de encontro e descoberta. Ao mesmo tempo em que se está entrando no universo de um autor, também estamos estabelecendo e recriando contato com nossas aspirações, defeitos, nosso ser interior, os fantasmas e anjos. Há momentos em que o livro é que nos contempla. Ao entrar numa livraria ou biblioteca, meus olhos percorrem as estantes procurando adivinhar as palavras impressas e, num átimo, descobrir, como por encanto, o significado de eu estar ali em busca de um som em particular. A frase para se meditar um dia inteiro, ou uma vida. Há livros para se ler do início ao fim. Há outros para se colher pérolas forjadas para o momento único e íntimo em que se vê unido ao Cosmos, sem a interferência das ilusões terrenas.

Um amigo me dizia que para saber se um livro era bom, bastava ler a primeira e a última palavra da obra. Se a leitura encadeada de ambas fizesse sentido, o livro seria bom. Não faço ideia de onde surgiu essa teoria minimalista, mas já me diverti bastante com ela. Depois, passei a ver que, entre o alfa e o ômega de toda obra, há uma construção que precisa ser desvelada e sentida para fazer sentido. E, principalmente, que os livros devem ser lidos com a mesma lentidão com que foram escritos.

Sejam os livros impressos ou virtuais, a palavra prossegue sua função de acrescentar conhecimento e alimentar a sensibilidade. Neste 2011, esperamos que muitas iniciativas prosperem no campo do incentivo à leitura, ganhando mais espaço nas escolas, associações de bairro, centros culturais, bibliotecas e nas famílias. O espaço do livro é no coração dos homens.

Camilo Mota é escritor, editor do Jornal Poiésis.